Você já ouviu falar sobre o transtorno alimentar que é caracterizado pela obsessão em busca de dietas saudáveis? É isso mesmo, a doença existe e tem nome, ortorexia nervosa. Nela, a pessoa fica totalmente “fissurada” pela busca de alimentos saudáveis. Entenda melhor isso.
A boa notícia é que tem cura. Por outro lado, o não tratamento da doença pode levar a consequências bastante graves, como o comprometimento da vida social e complicações médicas, como a falta de nutrientes no organismo. Parece confuso, mas não é. Explicaremos!
O hábito de se alimentar bem
Antes de qualquer tópico, a gente quer deixar claro que esse texto não é para contrariar o bom senso sobre a alimentação saudável, claro que não. Alimentar-se bem é sinônimo de um bom hábito e isso nunca foi tão importante na nossa sociedade.
O problema está quando há um excesso dessa ideia. Comer muitas folhas verdes, evitar industrializados, gordurosos e açucarados é ótimo para qualquer pessoa e isso não se discute. Mas, o problema acontece quando há uma obsessão por isso tudo.
Aliás, obsessão é algo como “apego exagerado a uma ideia”. Ok? E já vamos ser francos aqui, bem no começo, a ortorexia nervosa não é reconhecida como transtorno alimentar com base no DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), mas é muito discutida.
O que é a ortorexia nervosa
Ortorexia nervosa ou somente ortorexia é um termo usado para definir a obsessão por alimentação saudável. O termo veio do médico Steve Bratman, que observou o comportamento de pessoas que tinham relações extremas com a dieta saudável.
Ou seja, elas só optam por alimentos saudáveis, o que, na opinião do médico, é um transtorno alimentar grave e tão grave como a bulimia e a anorexia, por exemplo. No entanto, a preocupação do doente não é com o corpo e sim com os alimentos ingeridos.
Para se ter uma ideia mais prática disso, essas pessoas que tem a ortorexia, mesmo que não saibam que tem, são aquelas que evitam ao todo o sal, o açúcar, a gordura trans, os corantes, os conservantes, o glúten, os transgênicos, os com agrotóxicos ou pesticidas.
A opinião do médico Drauzio Varella
No Brasil, há um médico que é muito conhecido e sempre cita algumas informações importantes sobre doenças, das mais antigas até as mais novas. Ele traduz bem a ortorexia nervosa em seu site.
“Não comer em restaurantes e lanchonetes, passar horas a fio avaliando a embalagem dos alimentos em mercados, só consumir produtos saudáveis como frutas e cereais, não comer nada que seja feito por outra pessoa. A ortorexia é um transtorno alimentar”, diz o médico Drauzio Varella.
E conclui a ideia falando que “no nosso país, ainda não há uma estimativa do número de pessoas que sofrem desse transtorno. No entanto, é preciso ficar alerta, porque se não for tratada, ela pode levar a outros transtornos, como anorexia e bulimia”.
As consequências da ortorexia nervosa
Ok, ok, agora você pode estar se perguntando: mas, o que é que acontece com essas pessoas? Se elas não identificam que tem esse transtorno e continuam com a dieta altamente restrita, elas podem ter complicações. Então, vamos usar um exemplo rápido para explicar melhor.
Imagine alguém que tenha essa obsessão por comer apenas alimentos saudáveis. E, então, acontece dela ficar em um evento, na rua, sem poder preparar a própria alimentação. O que ela faz nesse caso? Possivelmente, ela vai ficar sem comer e aí temos um grande problema.
Sem um kit de sobrevivência de alimentos saudáveis, o que acontece é que ela ficará desnutrida. Isso afeta não apenas a vida social, como todo o restante também porque haverá deficiência de nutrientes. Em um dia, talvez não, mas no longo prazo, isso pode devastador.
Os sinais da ortorexia nervosa
É importante entender os sinais da doença porque ela ainda é nova e pouco conhecida. Fora isso, o autoconhecimento também pode fazer com que você descubra os sinais em outras pessoas. E ainda que os sinais não garantam a doença, eles podem ser indicativos.
Bom, vamos lá. Se você passa a maior parte do seu tempo, considerado as 24 horas do dia, pensando, escolhendo, preparando e focando em alimentação saudável, cuidado. Esse é um comportamento que pode interferir até mesmo no seu relacionamento, trabalho, etc.
Outro detalhe que nos importa e muito. Você é daqueles que quando vê um alimento que não é saudável, se sente culpado ou contaminado por ele? Só o fato de estar perto deles já perturba você? Esse é outro dos sinais. E tem mais alguns, veja abaixo.
Outros sinais
Também podemos considerar como sinal da ortorexia nervosa quando a pessoa tem o senso de paz e humor alterado com base no que come. Ou quando só deixa os momentos de relaxamento nas regras da dieta para festas. Mas, mesmo nas festas, ela se proibi de comer.
Outro sinal, que acaba sendo mais difícil de notar, é quando a pessoa vai restringindo a lista de alimentos saudáveis. Ou seja, cria uma grande lista dos alimentos proibidos. Até chegar ao ponto de que as restrições façam com que ela perca ou fique sem muitos nutrientes.
Por último, leve em conta que ter uma dieta excessivamente saudável também pode causar problemas físicos, fisiológicos, corporais. Por exemplo, a perda de cabelo, problemas na pele e até mesmo a interrupção da menstruação, no caso das mulheres.
O tratamento da ortorexia nervosa
O melhor tratamento, como é o caso das outras doenças que tenham a ver com obsessões alimentares, passa por uma equipe multidisciplinar. Isto é, envolve médicos de várias especialidades, como terapeutas, nutricionistas, psicólogos, psiquiatras, etc.
É importante observar que cada um deles vai poder atuar em sua área, mas de forma que o conjunto esteja em sintoma. Por exemplo, a nutricionista analisará a perca de nutrientes enquanto que o psicólogo poderá entender os motivos dos pacientes para tais condições.
Também é interessante dizer que o uso das redes sociais, como o Instagram, influência nisso. Assim, do mesmo modo que pode ser vilão para influenciar essas pessoas também pode ser o mocinho, que vai ajudar no tratamento. O ideal é falar sobre isso com os médicos.
Há um público-alvo da doença
Como você sabe, estamos diante de um transtorno novo e que está sendo muito estudado. No entanto, já se provou que há uma espécie de público-alvo que se enquadra nesse perfil.
Geralmente, são pessoas que seguem dietas restritivas ou que seguem modas alimentares de famosos e atletas. Além disso, entram no grupo aquelas pessoas que se consideram como “perfeccionistas” e “ansiosas”.
No entanto, ninguém está fora da lista de possíveis pacientes do transtorno. Assim, se há uma preocupação excessiva com a qualidade dos alimentos consumidos e restrições alimentares, talvez seja a hora de começar a avaliar melhor o seu quadro.
Há associação com outros distúrbios alimentares
Se há um público-alvo para a ortorexia, saiba que também há ligação com outros transtornos alimentares, especialmente comuns em condições da saúde mental. Um deles é o famoso TOC – Transtorno Obsessivo-Compulsivo.
É comum que rituais alimentares restritivos se iniciem com a ideia de melhorar a saúde e até mesmo prevenir doenças ou perder peso. No entanto, com o tempo, a dieta se torna tão restritiva que tem efeito contrário.
Além disso, temos a vigorexia, que é quando a obsessão está na busca por um corpo perfeito. Isto é, com músculos fortes. Aí, o que acontece é que a pessoa acaba optando por alimentos saudáveis de forma tão obsessiva que acaba entrando também na ortorexia.
O que mais saber da ortorexia nervosa
Deixamos mais para o fim algumas “curiosidades” sobre o transtorno. Primeiro, considere que a palavra vem de “ortho”, que é algo como “correto” e “orexis” que é “apetite”. São duas palavras gregas, usadas pelo Bratman.
E ainda que no Brasil não se tenha estimativa dos casos, considere que o Centro Nacional para Distúrbios Alimentares Britânico diz que recebe mais de 6 mil ligações ou e-mails por ano com pessoas contando sobre o transtorno da ortorexia.
Além disso, alguns portais de notícias já chegaram a dizer que se estima que entre 1% e 7% de toda a população mundial sofra com o transtorno, do qual a maioria é formado por mulheres.
Outros transtornos alimentares
Se você achou curioso essa notícia, que fala sobre a obsessão por alimentos saudáveis, considere que ele não é o mais comum. Até mesmo porque há outros transtornos alimentares que são bem mais comuns no mundo todo, como a compulsão alimentar.
Nesse caso, a pessoa come tudo o que vê pela frente, sendo até 15 mil calorias em poucos minutos. E em alguns casos, a pessoa até pode ficar com remorso e vomitar a alimentação. Aí, entra outro quadro, da bulimia. A bulimia é para compensar a alimentação exagerada.
E tem a anorexia também, que é próximo da bulimia, sendo que há uma busca pelo corpo mais magro. No entanto, a pessoa não come muito e depois vomita, ela simplesmente não come.
Para saber mais sobre a ortorexia
Se você se interessou por esse assunto, a nossa dica é sempre continuar estudando e avaliando as novas pesquisas que são feitas.
E sempre use canais de informação de qualidade para isso. Para se ter uma ideia, o hospital Sírio Libanês lançou uma notícia em 2018 comentando o assunto.